Zaho de Sagazan

Paredes de Coura, Agosto de 2025

“’Vamos, não adianta nada chorar assim!’, disse Alice para si mesma, num tom um tanto áspero, ‘eu aconselho-te a parar já!.’ Em geral dava conselhos muito bons a si mesma (embora raramente os seguisse), repreendendo-se de vez em quando tão severamente que ficava com lágrimas nos olhos.”, Alice no País das Maravilhas. Dizia Alice: “alguma vez vou aprender a fazer o que sei que devia?”, e chorava, chorava, e sem saber porquê, não conseguia parar, mesmo quando corria o risco de naufrágio, ao inundar a casa. Saía de lá leve, mais pequena, numa garrafinha a boiar, a dizer: “oh dear, quem me dera não ter chorado tanto”.

Quem pelos vistos também tem este problema é Zaho de Sagazan, 25 anos, praticamente sozinha no grande palco do Paredes de Coura a explicar que às vezes precisa de chorar só porque sim, e que foi essa a razão pela qual escreveu a Symphonie des Éclairs, sobre uma tempestade que se esforçava por ser sol, mas se apercebe depois que não tem mal ser como é, porque o vento espalha melhor as músicas, e chega mais depressa às pessoas.

Ela, a chorar? Ela, que abriu o festival de Cannes a cantar Modern Love; ela, que fechou os Jogos Olímpicos de Verão; ela, que pronuncia com convicção cada letra de cada verso; ela, que termina as frases com a mesma energia com a qual as começa, como se nunca precisasse de parar para respirar; ela, cuja presença de espírito contagia uma plateia de milhares de pessoas; ela, que canta na sua própria língua, e que nos provou que um público português sabe de cor uma letra em francês. Ela, que não pede autorização para misturar estilos musicais e alterna eletrónica, rock e o estilo Brel. Ela, que não faz para parecer mais velha, com um sorriso doce e divertido. Ela, que nos dá sensação de ter uma amiga no palco. Ela, é exatamente a tempestade de que fala.









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